terça-feira, 11 de agosto de 2009

Juridiquês e Rui Barbosa

Ontem na aula de Linguagem Jurídica na Faculdade, trabalhamos um texto denominado "Juridiquês no banco dos réus", extraído da "Revista Língua", o qual tratava dos exageros linguísticos, arcaísmos e linguagem excessivamente rebuscada utilizada nos tribunais, o que, por muitas vezes, contribue para o aumento da morosidade no andamento dos processos. Durante a minha análise sobre o citado texto, lembrei-me dessas pérolas linguísticas atribuídas ao famoso Rui Barbosa o qual era não só um poliglota mas também, como bom jurista, primava por utilizar palavras não muito corriqueiras do vernáculo. Não sei se são verdadeiras ou se são apenas lendas urbanas, mas vale a pena ler. Segue também algumas expressões - e suas "traduções" - tiradas do texto da Revista língua.

Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe: "- Oh, bucéfaloanácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à qüinquagésima potência que o vulgo denomina nada."

E o ladrão, confuso, diz:
"- Dotô, eu levo ou deixo os pato?"

Zeca Baleiro, faz essa mesma citação em sua música "Vô Imbolá", mas num contexto diferente que pode-se aplicar muito bem ao nosso dia-a-dia, principalmente aos bucéfalos anácronos:
"- Como é por ignorância transito, mas se fosse unicamente para menoscabar de minha alta prosopopéia, dar-te-ia um soco no alto da sinagoga que por-te-ia mais raso do que solo pátrio!"



Conta-se ainda que ao regressar da Europa, Rui Barbosa, chegou ao Rio de Janeiro e teve que ir a Niterói. Naqueles tempos, dizem, que haviam barcos, movidos a remos, que, a alta classe do Rio, costumava alugar para fazer a travessia. Aquelas pequenas embarcações eram remadas por negros. E, assim conta-se o relato.

Ao aproximar-se do lugar em que se alugava as embarcações, Rui Barbosa, dirigiu-se ao barqueiro e perguntou:

- Ó, humilde servo descendente das tribos d´África, quanto quereis de remuneração pecuniar, para alçar-me deste pólo àquele hemisfério?

O barqueiro não entendendo o que ele quiz dizer perguntou:
- Sinhozinho, cemitério?

Rui Barbosa sentindo-se ofendido pela gafe responde:
- Ó cão vil, ignóbil e bucéfalo, como ousais zombar da minha alta prosopopéia. Se for por tua humilde ignorância, transijo, se não, dar-te-ei com meu bastão metafórico, bem no alto da tua sinagoga, e
transformarei tuas massas cefálicas em em escrementos cadavéricos, reduzindo-o à milhonésima parte de um quarto, que o vulgo denomina nada.
O barqueiro, sem entender patavinas do que ele disse perguntou:
- Mais, sinhozinho, será qui vai cabê tudu isso no barco?

Um Glossário no Tribunal: expressões e palavras que fazem a pompa do jargão do Direito

Abroquelar - fundamentar
Areópago - Tribunal
Cartula chéquica - folha de talão de cheques
Ergástulo público - Cadeia
Estipêndio funcional - salário
Egrégio Pretório Supremo - Supremo Tribunal Federal
Peça increpatória - denúncia
Proeminal delatória - denúncia
Vistor - perito.